Não me ofereças
flores, escreve-me cartas. Oferece-me suspiros feitos de crença em mentiras
inócuas. Faz-me sentir tua. Toma-te de posses por mim, já que nada temos de
nosso a não ser isto que nos une: uma fúria divina só provada pelos que nada
temem aos céus. Até os deuses consentem, abençoando às cegas quem se quer
assim. Que mal pode fazer um amor sem fim? Talvez excessivo seja para o músculo
que bate, bate. Chegará esgotado às noites, pela arritmia dos dias, mas
adormecerá feliz, almofadado na certeza de que pulsa por alguém.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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