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Dá tempo ao tempo

"About time", Richard Curtis, 2013
Um filme que vi há dias inspirou-me o tema. Até porque nunca houve conselho mais sábio que me agastasse tanto. Porque viver implica esperar, crescer para aparecer. Não somos a casa pronta, chave na mão. Nascemos um edifício vazio que a vida vai mobilando. Com a idade, nós casas, vamos crescendo, ganhamos divisões. O mobiliário, esse, vai chegando a conta-gotas, com o passar do tempo. Uma tragédia aqui, uma alegria ali, uma descoberta acolá. A aprendizagem começa por exibir-se nua e acaba fechada em gavetas, como os objectos que possuímos, muitas vezes sem saber porquê, tantas vezes sem saber para quê. Adiante, tudo acaba por fazer sentido. Nada acontece cedo nem tarde demais. Nós é que vivemos na eterna esperança em que algo nos aconteça já. Ou, por vezes, simplesmente não vivemos, temendo o que nos possa acontecer. E se pudéssemos voltar atrás, àquele instante que determinou uma mudança na nossa vida, e fazer tudo de novo, de outra maneira? É esta a pergunta que levanta o filme “Dá tempo ao tempo”, uma história que alterna, de forma equilibrada, entre a comédia e o drama, estimulando a reflexão. Ao chegar ao fim, o jovem Tim acaba por descobrir que, apesar do seu super-poder de viajante no tempo, não é preciso grandes manobras para a nossa vida ser exactamente aquilo que deveria ser: de certa forma, perfeita à sua maneira.

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...