Perder
a mãe é uma amputação. É sentir a morte arrancar-nos um membro à dentada. A
partir daí, tudo será como aprender a fazer tranças com uma só mão. No início, vai
parecer impossível. Será como caminhar com uma só perna. Coxeando e caindo, sem
ter quem nos apare. Viver sem mãe deve parecer-se a caminhar sem chão. Escrevo
no domínio da suposição, porque felizmente não sei o que isso é.
Provavelmente, se a lei da vida não atraiçoar as contas, um dia essa dor irá tocar-me. Que buraco fundo a falta de um mãe consegue escavar! De
um pai sente-se a falta. Muita. Mas uma mãe sai de nós como um dia saímos dela: com um grito de parto. Um dia, quase todas as mães juraram não aguentar as
dores de um outro corpo a sair do seu. Assim serás, minha mãe. Quando partires,
vais deixar-me de herança um longo trabalho de parto. Sozinha, terei de parir
forças para suportar esta vida sem ti. Se ao menos pudesses dizer-me onde
reencontrar o calor das tuas mãos…
(Dedicado a uma mãe-coragem que ontem partiu)
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