Tudo me parece agora tão claro, como se finalmente tivesse escancarado as janelas da existência. Lá fora, a vida nunca deixará de ser um caos. O desafio é ser-se, dentro, caminho de harmonia, nascente de beleza, ponte entre as mãos que desejam unir-se. Agora compreendo que não posso, não devo, nem quero, agradar ao mundo inteiro. Essa será sempre a mais impossível e inglória das missões. O importante é a fidelidade aos meus princípios, aos meus propósitos, à verdade e liberdade que nasci para ser. A bondade dos meus gestos confirma-se nos que me rodeiam ficando sempre. Os outros desconhecem-me e não se pode amar quem não se conhece. Tudo o que fui e já não sou ensinou-me o essencial para persistir. No jogo da vida, não vale desistir, nem fazer batota. Perder ou ganhar é intermitentemente relativo. Só a distância temporal permite ajuizar resultados. A procura é inútil quando não sabemos quem somos. E tudo nos encontra quando arrumamos os medos e ressoamos confiança. Ao voltar a soprar as velas, é enorme a gratidão e são cada vez menos os desejos. Que a vida me ofereça mais tempo de cura e silêncio entre batalhas. E que o amor adormecido regresse, devidamente oxigenado, em múltiplos abraços beijados, depois de se abolirem as máscaras.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
Belíssima prosa!
ResponderEliminarA autenticidade e a veracidade conjuntamente com a maturidade são a fonte a sabedoria, concordo, assim como estou de acordo com a esperança que alimenta o sonhador que tem sempre a vontade de bem fazer!
Muito obrigada! 😊
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