Camiões carregados de ajuda preparam-se para atravessar a Europa até às fronteiras da guerra. Quando a solidariedade se faz força na partilha comunitária, são os mais pobres que mais partilham as suas misérias com os que nada têm. É o ímpeto de ajudar que nos faz humanos, reconhecendo no outro carência maior que a nossa. Partilhar o pouco que temos torna-nos sempre maiores, ainda que mais pobres. No gesto de dar sonha-se a alegria do outro, mesmo a sorrisos de distância da última memória feliz. Destemidos compatriotas, com apurado sentido de missão, fazem-se ao caminho para ajudar no combate. Pela frente têm milhares de quilómetros, até uma chegada sem direito ao cansaço. Por cá, confiantes na fé, os que se mantêm à espera de melhores notícias trocam manifestações por vigílias de oração pela paz. Ainda antes das tropas russas entrarem em Kiev, a Ucrânia assina mais um ato de valentia aderindo à União Europeia. A guerra continua devagar, na ótica de quem assiste do sofá. Quando os refugiados da guerra nos baterem à porta, que não nos falte a bondade para os acolher como irmãos.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...
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