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A SOLIDARIEDADE PÕE-SE A CAMINHO

Camiões carregados de ajuda preparam-se para atravessar a Europa até às fronteiras da guerra. Quando a solidariedade se faz força na partilha comunitária, são os mais pobres que mais partilham as suas misérias com os que nada têm. É o ímpeto de ajudar que nos faz humanos, reconhecendo no outro carência maior que a nossa. Partilhar o pouco que temos torna-nos sempre maiores, ainda que mais pobres. No gesto de dar sonha-se a alegria do outro, mesmo a sorrisos de distância da última memória feliz. Destemidos compatriotas, com apurado sentido de missão, fazem-se ao caminho para ajudar no combate. Pela frente têm milhares de quilómetros, até uma chegada sem direito ao cansaço. Por cá, confiantes na fé, os que se mantêm à espera de melhores notícias trocam manifestações por vigílias de oração pela paz. Ainda antes das tropas russas entrarem em Kiev, a Ucrânia assina mais um ato de valentia aderindo à União Europeia. A guerra continua devagar, na ótica de quem assiste do sofá. Quando os refugiados da guerra nos baterem à porta, que não nos falte a bondade para os acolher como irmãos. 


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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

PERTENÇA VIRTUAL

Apaixonaram-se ao primeiro clique.  No início, tudo tinha a leveza eufórica da novidade. Tudo tinha o ingénuo encanto do desconhecido. Enquanto deslindavam os detalhes virtuosos da vida privada um do outro, em mensagens infinitas, contemplavam-se teclando, trocando imagens e palavras e emojis. Foram dias áureos de expectativa crescente. Quando será o nosso encontro real? A magia começava a desvanecer-se ao surgir a questão. Alguém não deseja abdicar do perfeccionismo platónico. Camuflados na virtualidade somos todos muito bons. Para quê sair do casulo para dar a conhecer o pior de nós? O melhor é encerrar o assunto enquanto ainda paira a beleza inicial. Um vai-se esfumando e saí de mansinho. As respostas chegam cada vez mais demoradas até não chegarem mais. Encontros românticos são para gente corajosa na vida real. O que aconteceu aqui foi só uma ilusão. A ludibriosa crença de ser possível uma pertença virtual.  (Publicado na revista ESPÚRIA, outubro 2023)