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Índice médio de felicidade

"Índice médio de felicidade", David Machado, 2013
“Numa escala de zero a dez, quão satisfeito se sente com a vida no seu todo?”. É em torno desta questão que gira toda a história narrada por Daniel, o protagonista deste que é o mais recente livro de David Machado. O personagem - que vê a sua vida colapsar, após perder o emprego, a casa e, consequentemente, a mulher e os filhos, que se vêem forçados a ir viver para longe por força das circunstâncias – trava uma luta incansável pela não resignação e resgate de toda e qualquer esperança. O que nos resta quando perdemos os pilares da nossa existência? Será possível perder-se tudo o que se julga indispensável e ainda assim ser-se feliz? Esta é uma obra que nos cativa e seduz pela franqueza nua da realidade exposta e nos vai fazendo levantar questões muito pertinentes sobre a nossa própria vida. É impossível fechar este livro sem sentir admiração pela determinação de Daniel, um personagem inspirador do qual nos lembraremos certamente, como uma referência, sempre a vida se complicar. Uma obra recente, de temática muito actual, que confirma este jovem autor como membro de uma nova geração de talentos da literatura portuguesa. Recomendadíssimo!

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...