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Menino de ouro

Cristiano Ronaldo: o melhor futebolista do mundo e o primeiro português a ganhar duas bolas de ouro (2008, 2013)
Gostava de um dia sentir o que sentiu hoje dona Dolores. O seu filho, um ser do seu corpo nascido, é o melhor do mundo naquilo que faz. Haverá maior orgulho para uma mãe? Todas desejam o melhor para os seus meninos. A maioria são mães de filhos que tentam, que se esforçam, que quase conseguem. Mas dona Dolores é mãe de um sonho a quem um dia chamou Ronaldo, em homenagem ao presidente americano. O menino de dona Dolores cresceu. Cinco anos de luta fizeram dele um homem. Após a primeira bola de ouro, Cristiano Ronaldo julgou-se capaz de tocar o céu. Aos vinte e poucos anos estava nas nuvens e pensava que estalar um dedo bastava para subir mais alto. São as lições que nos dão a maturidade. E as lágrimas de hoje foram as de um homem que aprendeu a lição. Ser o melhor, não é ser o maior, é apenas ser o mais completo. Ronaldo sabe hoje que assim é, mas aprendeu-o a custo: o sucesso dá muito trabalho. E o homem que troca as palavras que não tem pelas lágrimas que não consegue conter é o exemplo de que não há vitória sem sofrimento. E agora Ronaldo, até onde vais? Correrás atrás da bola, até onde ela te guiar? Ou voarás até ao Brasil para, num salto de gigante, nos realizares o sonho português de um mundial? 

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

PERTENÇA VIRTUAL

Apaixonaram-se ao primeiro clique.  No início, tudo tinha a leveza eufórica da novidade. Tudo tinha o ingénuo encanto do desconhecido. Enquanto deslindavam os detalhes virtuosos da vida privada um do outro, em mensagens infinitas, contemplavam-se teclando, trocando imagens e palavras e emojis. Foram dias áureos de expectativa crescente. Quando será o nosso encontro real? A magia começava a desvanecer-se ao surgir a questão. Alguém não deseja abdicar do perfeccionismo platónico. Camuflados na virtualidade somos todos muito bons. Para quê sair do casulo para dar a conhecer o pior de nós? O melhor é encerrar o assunto enquanto ainda paira a beleza inicial. Um vai-se esfumando e saí de mansinho. As respostas chegam cada vez mais demoradas até não chegarem mais. Encontros românticos são para gente corajosa na vida real. O que aconteceu aqui foi só uma ilusão. A ludibriosa crença de ser possível uma pertença virtual.  (Publicado na revista ESPÚRIA, outubro 2023)