Eusébio da Silva Ferreira, 1942-2014 |
Hoje apetece-me
dizer que a morte pode ser muito bonita quando celebrada com glória.
Num atípico dia
de reis, Portugal permitiu-se vestir um luto encarnado pelo seu “pantera negra”.
O Eusébio era nosso, um pedaço de país em corpo de homem, um nome que sozinho
nos abria fronteiras. Lembro-me de ser miúda e ouvir dizer: no dia em que o
Eusébio morrer, vai ser feriado nacional. Esse dia chegou e o país, a meia-haste, de facto parou.
Nasci demasiado
tarde para o ver jogar ao vivo, mas cedo me apercebi que o Eusébio era alguém a
respeitar. Mas ele só jogava à bola, não sabia fazer mais nada, era quase
analfabeto, porquê ser tão importante? Durante anos não percebi. Parecia-me
excessiva tamanha veneração por um mero jogador de futebol.
Hoje, ao ver as arrepiantes imagens de um estádio a aplaudir de pé um caixão, ao ver as ruas da
capital vestidas de cachecóis de todas as cores a bater palmas à passagem de um
carro funerário, ao ver estátuas coroadas de flores, entendi todos os porquês.
Não é preciso tirar
três cursos superiores, dois mestrados e um doutoramento. Não é importante ser
bem-falante, nem nascer rico, nem nascer branco. O essencial é descobrir o que
se gosta de fazer na vida e fazê-lo bem. Fazê-lo com vontade genuína, não pelo
dinheiro que dá mas pela felicidade que traz. Se a sorte, num momento de inspiração,
nos fizer geniais na nossa discreta humildade, alguém irá reparar, o aplauso
irá soar, o público irá sorrir, a história irá eternizar.
Hoje, apesar das
lágrimas, não houve tristeza. Até o céu só chorou saudade. Como se o universo,
pelos seus meios, fizesse questão de abençoar o menino que nasceu povo e foi
capaz de, humildemente, morrer rei.
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