Lisboa tem milhares de pernas, sempre apressadas para ir a algum lugar. Se possível fosse silenciar outros ruídos, Lisboa seria um ecoar de passos ritmados em marcha, um exército de pés calçados, um aplauso de solas à calçada portuguesa.
Lisboa
tem olhos distraídos de pensamentos vagos em qualquer coisa por fazer. De todos
os lados, a beleza da cidade acena e sorri. Só os turistas reparam e param para
a contemplar. Os residentes ignoram o redor, sempre cabisbaixos, com a
atenção virada para dentro, levando o desprezo de nariz de fora.
Lisboa
tem uma boca gulosa, de creme de nata e canela, de pastel quente acabado de
trincar. O beijo lisboeta sabe a bica. E toda a cidade se move a cafeína. Os
balcões já nem estranham o colar e descolar de corpos. Sai uma italiana! O
pedido é curto e bebe-se num gole.
Lisboa
tem hálito quente, temperado a sal, salpicado a sol. É Belém em frente ao Tejo,
o doce e o salgado a disputar, se a cidade é feita de nata ou se é um sonho feito de luz, numa noite pensado ao luar.
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