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Fazer amigos

Não sei muito bem porquê, mas nunca fui muito boa a fazer amigos. Talvez por ser reservada. Talvez por ser prudente. Talvez por ser desconfiada.
Mas já vivi grandes momentos com pessoas a quem passei a designar por amigos. Dei-me por inteiro, partilhei o impartilhável e acabei por sofrer. Ao perceber que um dia, no dia em que mais precisava, eles não estavam lá. Estavam longe, demasiadamente ocupados com os seus problemas para perderem tempo com os meus. E senti-me muito só. Mais só do que se nunca tivesse tido amigos. Porque tê-los mas eles não estarem lá, no momento certo, para o que der e vier, é o mesmo que nunca terem existido. E então, a desilusão dá lugar à dor, que dá lugar à indiferença, que dá lugar ao prazer da solidão. Começo a gostar de estar só. O gosto vai virando vício. O vício transforma-se numa silenciosa dependência. E chego ao ponto em que me sinto mais acompanhada quando estou só. E lembro-me de alguém especial me ter ensinado um dia: “ A pior solidão é a ausência de nós próprios”. Relembro estas palavras e descubro como são sábias. Hoje sei que me basto para me fazer companhia. Desde que esteja bem comigo, sou a melhor companhia que posso desejar.

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...