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Quarto de hotel

Adorava morar num quarto de hotel. Numa suite presidencial 5 estrelas. Daquelas onde os líderes mundiais pernoitam entre cimeiras.
Regressar todos os dias a um sítio meticulosamente limpo e arrumado, onde o conforto paira no ar. Onde a cama está sempre feita, onde os lençóis estão sempre imaculadamente brancos.
Pedir o jantar pelo telefone, saboreá-lo tranquilamente sem me preocupar em cozinhar, limpar ou arrumar o que quer que seja.
Mandar recolher a loiça suja e descansar sem mais me preocupar com nada.
Pedir à recepção que me desperte à hora certa e ser recebida pela manhã com um pequeno almoço repleto de iguarias deliciosas preparadas de antemão por alguém.
Pedir mais café se me apetecer e partir para o meu dia de trabalho com a leveza de espírito que sempre desejei.
Acabar com as demoradas idas ao supermercado, que apenas roubam tempo e dinheiro.
Ter tempo - o maior luxo de que se pode usufruir - e aproveitá-lo a meu bel-prazer.
Ler, escrever, devorar cinema, viajar e viver. Aproveitar cada segundo livre do meu dia para viver a vida fazendo o que mais me dá prazer.
Conforto - a minha palavra preferida - e qualidade de vida - aquilo que busco acima de tudo.
Quero viver a vida, o melhor que posso e o melhor que sei, sempre ao máximo, sempre no limite.
É preciso estar sempre a aprender, é preciso saber viver. Um dia de cada vez, até ao último dos dias.

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Reportagem # 32

Jornal "Dica da Semana", edição regional Algarve, 29 de Janeiro de 2015

FRIDAY EATS

A refeição que pedala a rua à minha frente vai saciar o cansaço de alguém que trocou horas de fome por uns tostões. A energia que sobra é a da ponta dos dedos. Três toques no ecrã e o jantar está pronto. A marmita verde atravessa a cidade, pela força estoica do homem que não fala português. Também não precisa. Basta tocar à campainha e dizer a palavra mágica de significado universal. Num silêncio solene, digno de um requintado mordomo, abre o saco térmico e serve o jantar. O pobre senhor que ganha uns tostões, hoje sente-se um rei. Espreguiçado no sofá, a lambuzar-se num menu cancerígeno qualquer, reencontra um espasmo de felicidade. Ah, como é boa a sexta-feira! Mham 

VERSÃO 4.5

Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...