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Quilómetro zero

Fim de ciclo. Hora de despertar e renascer. Tempo de um novo recomeço. Um apelo à correcção de teimosos hábitos entranhados que nos adormecem os sentidos travando a evolução. Uma nova oportunidade de partir em busca de descobertas infinitas. As escolhas são sempre múltiplas e a aposta nem sempre certeira. A caça é tantas vezes feita de tiros ao lado. Mas perseguir um alvo é sempre um objectivo que nos move. Um passo em frente, um salto adiante, um pulo mais alto, um voo mais longe. Avançar é o verbo que sempre se impõe. Desejar. Sonhar. Lutar. Realizar. Por vezes perder. Escorregar. Cair. Sacudir o pó. Reerguer-se. Voltar a acreditar. De novo lutar. Esforço. Fraqueza. Quase desistir. Já falta pouco. Insiste. Se fores capaz de continuar, um dia chegas lá. Um dia hás-de ganhar. O prémio é continuar a ter tempo para fazer e refazer. Toda a vida, por mais longa que seja, será sempre uma obra frustrantemente inacabada. Desliga e volta a ligar. Reinicia o contador e acelera, rumo à próxima paragem.   

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