É domingo e tenho saudades de ir à missa. Muitos vão rir, outros vão ter a tentação de gozar com este meu desabafo, mas é verdade. Os cristãos por convicção, ao contrário dos cristãos por tradição, vão à missa porque gostam e sentem um vazio enorme quando, por alguma razão, não podem ir. Até isso a Pandemia nos roubou: o prazer de ir à missa. Aquela hora de encontro marcado com Deus, porque connosco próprios, de corpo e pensamento serenados no mais profundo de nós. Hoje a missa veio até mim pela Internet. Modernices necessárias em tempo de isolamento. Mas não é a mesma coisa. Nunca será a mesma coisa. Porque a missa é também um reencontro de amigos, um fruir de uma energia coletiva que dá força, um ritual de gestos, simbologias, cânticos e repicar de sinos, que encerra toda uma beleza. Hoje é domingo de ramos (sem ramos), o início da semana Santa mais atípica e virtual que muitos cristãos já viveram.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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