E morrem pessoas e pessoas. Números e
números. E por vezes um escritor, um médico, um artista. Hoje foi o Sepúlveda.
Alguém com nome que será lembrado pelo trabalho exemplar. O resto são multidões
anónimas, montanhas de números, nesta chuva de notícias que nos inunda os dias,
numa primavera sem flores. Estamos todos reféns da raiva de um vírus, serial
killer imprevisível e indomável, que nos retém em cativeiro, a contar caixões à
distância, sem direito a despedidas, na espera infinita dos dias que ainda
faltam para o recomeço do futuro.
Dizem-me frequentemente que ainda tenho cara de menina, que ainda sou nova, que ainda tenho a vida à minha frente. Contudo, face à cronologia, é-me inevitável constatar que mais de metade do tempo que me foi concedido já passou. O que me resta já será provavelmente menos. Se isso me inquieta? Não em termos de medo, mais em termos de pressa. Já não é pressa de viver mas de realizar, de me realizar. Apesar de já ter plantado árvores, tido filhos e publicado livros, sinto-me ainda distante da potencialidade plena do meu propósito existencial. O que me falta realizar então? Talvez plantar mais árvores e escrever mais livros, já que a possibilidade de gerar filhos tem prazo de validade e a energia vital para os cuidar vai esmorecendo. Tudo o que me falta fazer parece-me tanto para o tempo que imagino à minha frente. Não cabem tantos livros e filmes e viagens e experiências nas décadas que imagino ainda poder viver. O meu maior conflito interior neste momento é já não ser nova para tanta coi...

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